segunda-feira, 30 de março de 2015

Tive infância

Acordava às 5h30, no meio do dois. Sempre do lado direito a vó, do lado esquerdo o vô. Eu no meio, naquele buraco entre os travesseiros, que era feitos de macela seca. E eu adorava o cheiro, era uma mistura de cheiro de avôs com chá!
Os dois ficavam rezando até umas 6h e eu aproveitava a preguiça mais um pouco! Mas em seguida ia pra cozinha, supostamente ajudar a fazer o fogo. O banquinho de uns 20cm era perfeito pra mim. Ali eu ficava a me aquecer e observar as chamas queimando o papel, depois os gravetos e por último as lenhas.
Em cima da chapa a água pro café e algumas bananas para assar. Ainda que bem doces, eu pedia mais açúcar e canela para por em cima.
Depois do café eu saía pela "mata". Medo de cobra eu não tinha!
Era lindo subir no pé de ameixa (nêspera) e me sentir dona do mundo. Era meu pé de árvore preferido da chácara! Talvez porque era o único que eu conseguia subir.
Eu ficava lá comendo ameixa, goiaba, laranja, uva, pitanga, amora, moranguinho, dependendo da época!
Adorava cortar folhas de bananeira e junto com outras folhas brincava de fazer uma cama no meio do mato. Lembro como eu fazia ficar fofinho!
Ah, também tinha a conexão com os pés de couve! Para mim, eles eram que nem gente e eu brincava de cantar com eles. Eles cantavam comigo as músicas que eu inventava. As vezes eles eram plateia e às vezes eram os cantores também (como se fosse um coral).
Eu adorava a comida da minha vó! Todo dia tinha feijão e farinha. O tempero de tudo era muito simples e muito suave. Quando tinha macarrão com galinha caipira era a festa! Coisa chique!
Meu avô me fez um balanço no pé de pitangueira, e eu ficava horas balançando, contando as balançadas até o número que eu soubesse contar, depois começava de novo... E as pitangas caíam na minha cabeça.
Na chácará tinha um riachinho, bem pequeno mesmo, em cima dele uma parreira de xuxu, uva ou maracujá (conforme a época), dos lados tinha dois bambuzais. E no riachinho algumas piavinhas, pequenos peixes que tentava pegar com a mão, mas elas sempre fugiam.
Na chácara dava de quase tudo: muitos tipos de frutas, verduras e hortaliças. Além das galinhas, flores, plantas medicinais e do café! Hmmmm que cheirinho bom quando o vô torrava café! Ele ficava lá um tempão pilando aquilo.
Assim foi intensamente até os 11 anos de idade.
O tempo passou e a "modernidade" foi interessando mais do que a roça. Depois do vô, foi a vez do tio e por último da vó partir.
Hoje olho para o local onde era a chácara, vejo um condomínio de centenas de apartamentos.O coração aperta, os olhos se enchem e me dou conta que na realidade não serei uma Neorural, mas sou uma Neourbana, não adaptada à correria que se tornou esse lugar.

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